

Dia do Sim – Lua Cheia
É uma fase de cocaína! Cocaína de pequenas letras pontiagudas que me consomem as veias! É uma potente droga que me bombardeia o sangue até os meus olhos me saírem das órbitas! É um haxixe de papel timbrado, de um punhado de versos, de histórias! É uma ressaca de calhamaços de folhas! É uma descarga de pensamentos dos outros talvez, por não querer viver os meus... (os sentimentos dos outros — mais bonitos, mais líricos, mais poéticos, e bem menos dolorosos!) É uma fase em que o coração bate como um teclado de máquina de escrever!
Dia do Não – Quarto Minguante
Não digo, não escrevo, não falo... Dia de greve à escrita, ao comentário, à raiva, ao sentimento, à lágrima que fica no canto do olho, ao sorriso... Sim à ataraxia, apatia, distrofia de qualquer forma de pensar, agir e consumir... Apenas me resta um(a)
Solidão que suga
Invejosa
Liberta e
Enfeitiça
Ninguém a
Consome, mas todos a
Interiorizam e
Ouvem!
Dia do talvez – Lua Nova
Há dias e dias, dias que não são dias, dias bons, dias maus, dias assim assim... Dias em que choro ao ver um filme que sei como termina, dias em que rasgo tudo o que escrevo, dias em que não escrevo, dias de cão, dias de rico, dias de lixo... Dias de sol de Inverno, dias de Verão em que a praia já chateia, dias de espera, dias de desespera... Há dias em que um dia não são dias.
Dias, dias e dias em que escrevo e isso não diz nada a ninguém... esses são quase sempre. Porque há outros em que o que escrevo nem me diz nada a mim...
Dia do Nem Pensar – Quarto Crescente
Ai... Que me apetece partir tudo até já não conseguir mexer-me de raiva! Ai, que me apetece sugar-te até do tutano e não te deixar respirar!! Ai, que me apetece comer as folhas dos livros até absorver o seu conteúdo! Ai, que me apetece fotografar o mundo até já não existirem imagens e depois me cegar!!
Ai, grito para dentro de mim! O coração acelera, mas, compassadamente pára! Acendo um cigarro e, depois de um grito destes para dentro de mim mesma (como se eu fosse um túnel gigantesco) espero o retorno da minha raiva!!! O eco demora a chegar... sento-me até que me atinja na mesma proporção que o enviei...
Estou prestes a ser esmagada pela minha voz, e já sentindo a garganta a sufocar, fumo um outro cigarro (o último)! Quando o grito chegar ela vai apagá-lo, e assim já não tenho que me preocupar com o perigo de incêndio!!
Disclaimer - Ins(pirações)
Estes textos foram escritos por mim e originalmente publicados em 2006, no livro Liberdade Condicional. Este é um livro escrito em colaboração com vários outros autores, nos antípodas do Substack, nos primórdios do ADSL numa página de escrita chamada Escrever, escrever.
Revisitei-os agora, sob outra luz, noutro corpo. A maioria ficou intacta, e isso diz mais de mim do que me apetece admitir.