(Um episódio-piloto com cheiro a gordura emocional)
Durante anos, o Chef Jaime foi o som da cozinha moderna. As suas cebolas estalavam como poesia. O alho a dourar era ASMR.
Tinha livros, podcasts, uma linha de aventais com frases motivacionais como “Mexer é viver” e “Fritar é sonhar”. Mas entre o azeite e a fama, veio o vazio.
A meio de um workshop sobre “a transcendência da tapioca”, Jaime desmaiou em cima de um tataki de atum.
O diagnóstico veio logo depois: depressão com toque de esgotamento e uma pitada de solidão gourmet.
A solução? Um cheque chorudo de um canal desesperado por conteúdo “diferente”.
Nova proposta: “Que merda é esta?” Um programa onde Jaime faz receitas absurdas, prova e diz, sem filtros, se é uma bosta ou não.
No primeiro episódio, fez panquecas com molho de wasabi e chantilly. No segundo, arroz doce salgado com anchovas e canela. No terceiro, perdeu o controlo. Provou esparguete com Coca-Cola e chorou. Não pela receita mas pela infância. Cuspiu em direto.
“Parece que a minha avó me abandonou em forma de comida. Isto é um trauma servido em louça de autor.”
O público delirou, as views explodiram.Tornou-se ícone da verdade crua. Os influencers partilhavam nos seus stories como se fossem oráculos.
“É preciso coragem para dizer que sabe a merda!” diziam, entre um unboxing e uma meditação guiada.
Num episódio marcante, Jaime revelou que a inspiração para um prato nojento lhe veio de um restaurante com estrela Michelin.
“Fui lá, comi, sorri, aplaudi, mas no fundo, sabia que sabia a cuecas lavadas com sabão macaco. Hoje recriei, e sim... ainda sabe.”
Processos, cancelamentos, prémios. E no meio disso tudo, Jaime, sentado no camarim, a lamber uma colher de papas de aveia com caril, sem saber se aquilo era uma receita ou mais um pedido de ajuda.
Quero uma caneca com "mexer é viver" se faz favor.
Muito.bom. gostei demais do seu estilo. Valeu